Eu a detestava. Quando olhava para ela, meu coração ardia de inveja. Ela sabia tudo! Ou pelo menos assim parecia. Eu havia deixado o curso superior durante dois anos, mas entrei novamente na rotina de lições de casa e estudos. Estava assustada. Temerosa de não conseguir as notas, de não me lembrar de como se estuda, de não ser apreciada pelos professores ou aceita pelos colegas.
Ela era perfeita. Sempre alegre e otimista, ficava a segundos apenas de uma boa risada. A voz dela era a única que respondia às perguntas dos professores na aula de contabilidade, e era a ela que os colegas recorriam para pedir ajuda – ela sabia tudo. Se aguentar a “Srta. Perfeita-Sabe-Tudo” em contabilidade não fosse suficiente, eu tinha que sentar justamente atrás dela nas aulas de uma outra matéria também. Eu olhava fixamente para seu loiro rabo-de-cavalo. Por que, meu Deus, existem algumas pessoas tão abençoadas? E veja eu aqui. Por favor, tire de mim esta inveja. Ajude-me a gostar dela. Esforçando-me para ser legal, certo dia comecei a conversar com a Srta. Perfeita.
– Este é o seu primeiro curso universitário? – perguntei.
– Não; fiz enfermagem, mas concluí que não gosto da área – respondeu ela. – Agora estou no curso de pedagogia do ensino médio.
– Ah! E como é que você está tendo aulas de contabilidade, então? – indaguei a seguir.
– Minha especialização é na área administrativa. Para dizer a verdade, já estudei contabilidade antes, mas faz alguns anos, e decidi estudar outra vez. Um dos colegas na aula de contabilidade disse que tinha inveja de mim porque eu sabia todas as respostas. Tive que explicar a ele que já havia feito essa matéria antes.
O comentário dela me fez sorrir. Ele não é o único! admiti, encabulada, para mim mesma.
Acabei por descobrir que a “Srta. Perfeita-Sabe-Tudo” tinha um nome, Cindy. Era simplesmente tão humana quanto eu, e estudava bastante, apesar do seu conhecimento anterior. Conversar com ela se tornou algo diário. No final do semestre, nós duas estávamos planejando que matérias faríamos juntas no semestre seguinte, e até no ano letivo seguinte.
Pensar em Cindy me levou a indagar quantas outras pessoas julguei presunçosamente. Posso ter perdido alguma amizade realmente encantadora. Os amigos se apresentam em todo tipo de embalagem. É só perguntar para mim – ou para Cindy.
Kristi Geraci
Notas Divinas - Meditação da Mulher 2010 - CPB
Um comentário:
É verdade, somos mestres em julgar pela aparência!
Seu blog tá muito bonito, gosto destas cores!
Abração!
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