Em 1980, morávamos na cidade de Ongwediva, na região de Owamboland, Namíbia. Num final de semana prolongado, fomos com nossos filhos visitar o Parque Nacional Etosha, perto de Tsumeb. Para ver uma variedade maior de animais selvagens, fomos até os "buracos de água", pequenos lagos e riachos onde os animais vinham beber.
Num desses bebedouros, enquanto observávamos os javalis e as girafas, alguns animais pequenos e curiosos vinham até nosso carro, pedindo comida. Meu esposo abriu a porta do carro e começou a lhes dar algo para comer quando um jipe, dirigido pelos guardas do parque, se dirigiu a nós em alta velocidade.
– Feche a porta! – gritaram. – O senhor não imagina o risco que corre com essa porta aberta!
Nós sorrimos e respondemos que diante de nós, junto à corrente de água, havia apenas girafas e javalis.
– Muito bem – declarou um dos guardas – então olhe à direita, perto daquela rocha mais alta.
Havia um par de leões! Não os havíamos percebido!
– Agora olhe para aqueles arbustos à esquerda, um pouco mais perto de nós.
Outra dupla de leões! Mal podíamos acreditar naquilo que nos mostravam. Como era possível que não os tivéssemos visto?
Os guardas acrescentaram: – Os visitantes do parque não podem, sob circunstância nenhuma, sair do veículo – nem mesmo abrir as portas. A razão está aí, bem diante de vocês. Os visitantes podem sair do veículo só em locais protegidos.
Embora estivéssemos acampados dentro do parque, as áreas onde dormíamos e fazíamos as refeições e onde as crianças nadavam e brincavam estavam num local protegido.
Neste parque, a Terra onde vivemos, não vemos o leão que anda por aí. Ele age como aqueles leões no parque – invisível, escondido entre os arbustos e rochas de nossas preocupações, interesses, frustrações e anseios, ou nosso egoísmo, que lhe pode dar fácil acesso.
Cuidado com os "leões escondidos"!
Maria Costa Sales Cardosa
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